terça-feira, 1 de junho de 2010

Depois de tanto esperar...

No mês que passou, eu só tive mente para a Travessa da Espera. Agora que a peça aconteceu, estou voltando ao solo. Próximo passo: escrever a cena da igreja!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Curar as dores, deveria?

A ordem é: dessetorizar, desfrafmentar, unir, convergir, aproveitar. Temos que fazer esforço pra trazer à tona os elementos deixados no meio do caminho. Eis o desafio.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Deslocamentos

Saí do encontro de hoje empolgado. Creio que o jogo final que propusemos cumpriu uma importantíssima função: fazer uma demonstração positiva do que já tínhamos em mente, enquanto metodologia: a expressão do absurdo por meio do deslocamentos de elementos cotidianos. Vimos que pode funcionar bem. Exemplo que eu adorei: Jesus cristo, crucificado, entre duas atendentes de um banco (entre muitos outros).

Apesar disso, senti que muita gente tava perdida nesse, e em outros exercícios. Algo que venho observando é que há momentos em que os comandos dos exercícios ficam um pouco no ar, e não são plenamente entendidos, provocando confusões. Penso que até aqui, apesar da entropia, o grosso dos objetivos tem sido alcançado, mas fico atento para evitar cada vez mais isso, através de uma didática mais cuidadosa.

Gravei Cds com músicas do Rogério Skylab e dei pro pessoal da música (Rubens, Diego e Ramon). Minha sugestão não é quanto ao ritmo ou ao estilo musical, mas à forma como ele constrói as suas letras, que eu acho inspiradora pro nosso trabalho. Aí vai mais uma:

Palavreando

Mais Skylab!



Só pra constar

Esse período de experiências no GTU tem sido muito valioso pra mim, principalmente em relação ao meu trabalho enquanto professor de teatro. Essas experiências e trocas estão me ensinando a voltar minha sensibilidade para uma didática mais madura. Ponto.

Mais dicas de referências

Antonioni (incomunicabilidade), 
buñel (surrealismo) e 
fritz lang (o lance da dominação e da estética um tanto absurda/futurista)

(por rodrigo cruz)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Escola

Depois de assistir a cena da escola, feito pelo pessoal de ontem, imaginei algo como essa música permeando o texto do professor. Com uma iluminação louca, e todos os absurdos cênicos possíveis.


Sim, eu continuo insistindo em sugerir o Skylab pra música. E vou continuar sugerindo! =)

Comunicação: o paradoxo de uma sociedade em crise

Texto extraído do TCC de Rodrigo Cruz, amigo que me contaminou com o termo INCOMUNICABILIDADE. Acho que ele vem, aqui, pra iluminar conceitos e justificar os argumentos que estamos injetando em nosso trabalho. Considero sua leitura de extrema importância.


Pode parecer clichê (e não deixa de ser), mas comunicação é a palavra chave dos nossos tempos. Tudo e todos se comunicam. Os homens se comunicam, os animais, as plantas, as células, as máquinas, os sistemas. Para comunicar, basta estar vivo. E se ainda assim houver alguma dificuldade, o capitalismo informacional e seus inúmeros dispositivos de comunicação, telefones, fax, celulares, televisão, internet, estão aí para facilitar a comunicação entre os homens. Estamos todos conectados de alguma maneira, mesmo quando desejamos não estar, porque em nossos tempos, a comunicação deixou de ser uma necessidade e tornou-se um imperativo. Entretanto, apesar de toda essa facilidade, apesar da abundância de meios disponíveis, as pessoas continuam achando que não há comunicação, que não há entendimento, compartilhamento ou troca efetiva. Pelo contrário, parece cada vez mais difícil mostrar para o outro o que a gente sente, traduzir o que se passa dentro de nós, falar das nossas alegrias e tristezas. E mesmo diante de um estímulo tão grande para que a comunicação ocorra, a comunicação, quando ocorre, raramente é satisfatória.

A discussão em torno da comunicação, se ela existe, se ela acontece de fato e principalmente, se acontece de forma eficaz, é muito mais antiga do que o surgimento das tecnologias da informação. Desde a Antiguidade, diversos filósofos refletiram sobre o tema. O grego Heráclito de Éfeso (aproximadamente 540 a.C. - 470 a.C.), por exemplo, afirmou que os sentidos e as opiniões humanas se detêm na aparência das coisas. Para chegar à verdade, seria preciso captar, além dos sentidos, a inteligência que governa todas as coisas. Porém, Heráclito também refletiu a respeito da alma humana, e disse que “jamais poderá encontrar os limites da alma por mais que percorram seus caminhos, tão profundo é o seu Logos”. Tal idéia nos leva a crer que há algo no homem, algo extremamente profundo e pessoal que jamais poderia ser conhecido ou comunicado. Da mesma forma pensava Górgias de Leontini (480 a.C. - 375 a.C.), adepto da idéia de que o ser não existe. Se existisse, não poderia ser conhecido nem comunicado, uma vez que tudo o que as pessoas sentem é apreendido de maneira única e individual. Platão (428/427 - 348/347 a.C.), também demonstrou preocupação com a questão da comunicação e disse que a palavra, mesmo quando capaz de exprimir a qualidade dos seres, não consegue exprimir o próprio ser. A palavra (especialmente quando escrita) estaria congelada, enquanto os seres modificam-se continuamente.

O advento da técnica, a intensa difusão dos meios de comunicação e a emergência da chamada “sociedade de massas”, portanto, só vêm acentuar a antiga discussão em torno da comunicação. Por comunicação, entendemos aqui o processo ou acontecimento entre duas intencionalidades distintas. O jornalista e filósofo brasileiro Ciro Marcondes Filho afirma que a comunicação se produz no “atrito entre dois corpos” (se tomarmos as palavras, músicas e idéias também como corpos). Ela “vem da criação de um ambiente comum em que dois lados participam e extraem de sua participação algo novo, inesperado, que não estava em nenhum deles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar das diferenças individuais se manterem” (MARCONDES FILHO 2004:15). Entretanto, esse processo de troca acontece com extrema dificuldade nas sociedades modernas. Os meios de comunicação, a despeito de daquilo que se propõem, parecem não promover de fato a comunicação, pelo contrário, eles parecem criar um ambiente de impossibilidade, de incomunicabilidade.

Para o filósofo francês Günter Anders essa incomunicabilidade é produzida pelos próprios meios de comunicação, que, ao criar um mesmo mundo para todos, um mundo viciado nos mesmos temas, nas mesmas formas de ver, na mesma sensibilidade, torna a todos congruentes”. Essa espécie de “monólogo coletivo” cria uma situação na qual ninguém tem mais nada a trocar com o outro, “pois todos partilham das mesmas emoções, sensações, percepções de mundo, tornando-se, assim, emudecidos” (MARCONDES FILHO 2009:182). Em seu “Dicionário de Comunicação”, Ciro Marcondes Filho procura conceituar o termo “incomunicabilidade” afirmando que esta pode ocorrer em dois planos distintos: o individual e o social3. Do ponto de vista individual, a incomunicabilidade corresponde às sensações de uma pessoa, a tudo aquilo que pertence ao plano dos sentidos e que não pode ser representado conceitualmente. No plano social ou supraindividual, corresponde às percepções humanas acerca da realidade, que são capturadas cada uma a sua maneira e por isso, não podem ser partilhadas. Em ambos os planos é impossível exprimir ou representar de fato as nossas impressões sobre o mundo.

Estamos então diante de um paradoxo. Se nós vivemos na chamada “era das comunicações”, na qual as informações, as mercadorias e os capitais circulam livremente, em alta velocidade, por todo o mundo, através dos mais diferentes suportes tecnológicos, por que as pessoas têm a sensação de que não se comunicam? Para Ciro Marcondes Filho, a resposta estaria no modo de vida urbano da sociedade industrial moderna, na qual estamos todos envolvidos. Uma Comunidade de pessoas que simplesmente habitam o mesmo espaço, visitam os mesmo supermercados, andam pelas mesmas auto estradas, assistem os mesmos programas de Tv, vibram com as mesmas festividades e nos finais de ano saem em compras automáticas e obrigatórias de presentes de Natal. Uma vida em sociedade que, em verdade, é muito repetitiva, monótona e sem emoções, sem novidades que um dia se acaba com a morte. Essas pessoas que somos todos nós, que são nossos vizinhos, nossos parentes, colegas de trabalho, estão fechadas, mesmo dentro de casa, com seu cônjuge, com seus filhos, com seus tios, avós, cunhados e irmãos. Fechados em si mesmos; cada um como uma mônada isolada, trancada, só. (MARCONDES FILHO, 2004: 9).

Enquanto isso, somos bombardeados diariamente com mensagens publicitárias que celebram um tempo no qual a comunicação não possui fronteiras, em uma clara tentativa de convencer a todos que um aparelho celular ou um computador com acesso a internet pode substituir aquilo que há pouco tempo parecia insubstituível: a troca de carinho, de afeto, a conversação, o abraço e a emoção do encontro. Estes aparelhos existem, na realidade, para suprir distâncias, e criar uma falsa sensação de proximidade. Trata-se de uma ilusão comercializada pelo sistema capitalista, que penetrou nas mais variadas esferas da vida humana e transformou a tudo em mercadoria, inclusive as relações afetivas.

Em seu livro “Amor líquido - Sobre a fragilidade dos laços humanos”, o sociólogo polonês Zigmount Bauman afirma que em “uma cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea4”, é de se esperar que se tenha o mesmo entendimento a respeito das relações afetivas. Segundo Bauman, estamos sempre dispostos a viver uma experiência amorosa da mesma forma que se consumimos um produto industrializado. Talvez por esse motivo, as relações humanas nas sociedades modernas estejam permeadas pela frustração, pela impossibilidade e por uma sensação irremediável de ausência. E por mais que recorramos a um telefonema, um email, sabemos, no fundo, que não há suporte tecnológico que possa expressar com eficácia aquilo que se passa dentro de nós. Ciro Marcondes Filho acredita que essa comunicação efetiva é cada vez mais rara. Talvez na infância, nas situações incomuns, em que estamos amando outra pessoa, em algumas situações de diálogo. No mais, a comunicação é uma farsa, um equívoco, um jogo que mais ilude do que realiza aquilo a que se pretende. Que plantas e animais, diferente do que imaginamos, não se comunicam, e mesmo nós, humanos, o fazemos com dificuldade. Logramos de fato nos comunicar quando preenchemos alguns requisitos pouco freqüentes, mesmo assim, essa comunicação jamais poderá ser absoluta ou plena. (MARCONDES FILHO, 2004: 10).

Seria correto dizer, então, segundo Ciro Marcondes, Filho, que a comunicação em nossos tempos, seja ela mediada pela tecnologia ou não, estaria cheia de falhas e de ruídos. É uma comunicação em crise. Esta crise é apenas uma parte de uma crise maior, uma crise civilizatória sem precedentes, que coloca em cheque a razão iluminista, que por séculos serviu como pilar para o desenvolvimento das civilizações ocidentais. O cerne desta crise residiria no fato de que o pensamento racional, a ciência e a tecnologia, que prometiam emancipar a humanidade da dependência da natureza, facilitar a vida cotidiana e levar progresso e felicidade a todos os homens ter levado a nossa civilização a uma experiência totalmente contrária. O desenvolvimento tecnológico trouxe facilidade e comodidade, mas também trouxe duas grandes guerras mundiais, armas nucleares e um acelerado processo de degradação ambiental em escala global, que em nada lembram as promessas de liberdade e felicidade do pensamento iluminista. O homem definitivamente não parece emancipado, ele parece preso à sombra de seu próprio desenvolvimento. E o paradoxo da comunicação contemporânea, que jamais se efetiva concretamente, apesar dos inúmeros meios disponíveis, é a maior prova disso.

O debate acerca da crise das sociedades industriais modernas não é novo e se arrasta há várias décadas. Para muitos autores, essas sociedades, que mergulharam na chamada experiência da modernidade, estão em crise porque o projeto moderno faliu. Para outros, a modernidade não acabou, apenas se transformou. Unânime mesmo só a percepção de que a crise existe, e não pode ser ignorada. Todos dizem que a modernidade está em crise. É um lugar comum, mas como outros lugares comuns, este pode ser até verdadeiro, desde que se entenda bem o alcance do diagnóstico. O que existe atrás da crise da modernidade é uma crise de civilização. O que está em crise é o projeto moderno de civilização, elaborado pela ilustração européia a partir de motivos da cultura judeo-clássica-cristã e aprofundado nos dois séculos sub-sequentes por movimentos como o liberal-capitalismo e o socialismo. (ROUANET, 1993: 9).
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Por modernidade entende-se o conjunto de transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas principalmente a partir do século XVI que se caracteriza, sobretudo, por uma grande mudança nas experiências subjetivas provocadas pelo advento da técnica. Com a modernidade desenvolvem-se os grandes centros urbanos, as redes de transporte e os meios de comunicação. Paralelamente ocorre também um processo de fragmentação do sujeito, de constantes tentativas de diluição da experiência coletiva e de reestruturação do tecido social especialmente com o fortalecimento da classe burguesa). As relações humanas devassadas pela presença do capital disseminam um modo de vida individualista. Os meios de comunicação não contribuem para reaproximar os homens, pelo contrário, criam uma irreversível situação de distanciamento.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Desenvolvimento

Primeiro dia comandado pela equipe de dramaturgia. Creio que iniciamos bem.

Foram realizados três jogos: Meu nome significa; Tensão silenciosa; e criação de cenas ligadas ao cotidiano. Na tensão silenciosa, deu pra perceber que alguns não compreenderam a coisa, mas quando o silêncio foi utilizado na cena da escola, percebi que estava perfeitamente compreendido. Fiquei muito feliz com a qualidade das cenas que vimos. Bola pra frente! Quinta-feira somos nós, de novo.

Reunião de curadoria

Respeitar o espaço do colega e ter paciência. Controlar a ansiedade. Dar tempo para as coisas se desenvolverem.

Gosto de quando a Wlad fala sobre a coisa de um elemento poder ser jogado por qualquer equipe, para que a direção trabalhe sem necessariamente saber como, a priori.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

Vírus

Trago aqui uma proposta de encenação. Na verdade, é um agrupamento de visões que tenho, partindo de trocas com colegas da equipe, nesse princípio de trabalho. Sei que sou precipitado, que ainda é cedo pra estabelecer certas coisas, mas acho importante expressar essas idéias que aparecem, mesmo que a título de registro.

1- A peça inicia do lado de fora do teatro. Todos os atores formam uma imensa fila, praticamente acampados, como se já estivessem ali há dois dias. O público é obrigado a formar a fila, a partir do final dessa. NOTA: dá pra perceber que os atores estão ali há muito tempo, mas eles não parecem se abater nenhum pouco com isso.

2- Quando o público entra, depois dos atores, estes ocupam todas as cadeiras, obrigando as pessoas a ficarem no palco. Os atores riem debochadamente.

3- Uma tela se acende (penso numa espécie de estandarte, bem alto, fixado no chão com a projeção feita num tecido branco esticado lá em cima), com a imagem de um ser alegórico, que representaria a voz do sistema que aprisiona o homem. O ser ordena que os operários iniciem o trabalho, então todos se levantam, e dão o espaço para a platéia.

NOTA: Esse ser, do telão, é quase um deus, um supremo vigilante, ao qual todos servem e obedecem. Porém, eu não imagino, para representar isso, uma imagem grandiosa, como um ser exuberante e complexo. Isso seria, de certo modo, óbvio. A idéia é retratar a condição humana pelo viés do absurdo, ou seja, os homens aprisionados por alguém que não é inteligente, muito menos humano, e ao mesmo tempo é o próprio homem. Sugiro então um sutil deslocamento: a imagem do cachorro (criatura domada pelo homem no cotidiano) como representação daquilo que faz o homem ser domado pelo próprio homem. Essa inversão (a humanidade domada por um cachorro) caracterizaria a vida humana como algo ridículo e irracional. Obs.: O cachorro filmado mastigaria chicletes e seria dublado.

4- A peça "inicia". Estamos no interior de um Shopping Center, que ainda não abriu as portas. No telão, a imagem do cachorro é substituída pela de um cronômetro, em contagem regressiva, como uma bomba-relógio. Temos, em cena, apenas um personagem: o faxineiro do shopping. Com uma atmosfera de musical da Broadway, ele canta afinadamente e dança com sua vassoura (em algum momento podem vir atrizes-dançarinas, para fazer coreografias com os guarda-chuvas). NOTA: A idéia, aqui, é dar ao espectador a idéia errada do espetáculo: ele se prepara para morder o hamburguer, e nós o tiramos de suas mãos, e o substituímos pela carne crua.

5- No ápice da cena, o cronômetro chega ao 00:00:00, e ouvimos sons de sirene, e muito barulho. São as portas do shopping se abrindo. A imagem do cachorro volta a ser exibida, e ele convoca as pessoas a gozarem, se entreterem e se deliciarem com promoções quentíssimas. O elenco entra em cena de forma organizada, como se tivessem sido adestrados.

6- A partir de então, o espetáculo fará um "passeio" por esse shopping. Incluiremos elementos obtidos por meio da criatividade de nosso elenco, em um processo dramatúrgico colaborativo. Compradores e produtos se confundem, em diversas situações relacionadas à desejos, prazeres e obsessões por coisas ridiculamente desnecessárias. É importante evocar, aqui, o ambiente de propaganda, na interpretação dos atores, nas falas, nas músicas, mas ainda não no vídeo. Acho que o vídeo ainda vem no sentido contrário: se no teatro tenta-se convencer de que produto X é super legal, no cinema vemos que na verdade, é o oposto. E mesmo assim, no teatro, o produto continua sendo cada vez mais atraente.

NOTA: O faxineiro passa por todos os ambientes, varrendo as coisas e as pessoas, em momentos inusitados, como se estivesse simplesmente programado para limpar o que visse pela frente. Ele é a peça defeituosa do sistema, e por onde passa, desorganiza e desloca as coisas.

7- Depois de um passeio por várias lojas, damos de cara com a placa "acesso restrito a funcionários". Uma pessoa executa, durante algum tempo, o movimento constante de se aproximar da porta, ler o que está escrito, e regressar, e repetir isso indefinidamente, sem esboçar o menor cansaço. Até que o faxineiro se aproxima e entra, varrendo tudo pelo caminho.

8- O ambiente por trás da porta é revelado. Trata-se de uma sala estranha: o coração do shopping. No seu interior, temos o cachorro, que comanda os humanos, diante de vários cinegrafistas adestrados. O faxineiro defeituoso entra querendo varrer tudo, e acaba desorganizando o sistema, fazendo o shopping entrar em colapso.

9- Temos um estrondo. O telão fica como uma TV sem sinal, e no palco, acontece um blackout. Os atores, então, fazem sons de animais, como uma manada de bichos que fogem de um zoológico. Essa situação acontece por algum tempo, pra causar desconforto e suspense na platéia. Os sons devem vir de todos os lados, surpreendendo os espectadores.

10- Com bastante interferência, a imagem do cachorro (agora com um cone no pescoço) tenta reaparecer na tela. Entre chiados, ele ordena que o antivírus seja acionado. Apesar do esforço, a imagem morre, e a tela se apaga.

11- De repente, fica silêncio. Uma luz se acende, e no palco temos apenas o faxineiro, fazendo exatamente a mesma coreografia do início do espetáculo, e mexendo a boca como se cantasse, mas sem sair som algum. Silêncio incomodativo, até que algum celular começa a tocar na platéia. Toca, toca, toca, e ninguém atende. E o ator continua os movimentos...

12- Aos poucos, temos novos pequenos estrondos, como uma rachadura que vai aumentando até se tornar uma cratera. Pane no sistema. Atores entram em cena aleatoriamente, repetindo ações das cenas anteriores, totalmente deslocadas e sem nexo algum. Gradativamente, a estrutura íntima do shopping é revelada, como um corpo que se abre para uma cirurgia. Em plano de fundo, vai sendo revelada a imagem da máquina, que vai crescendo, até se tornar gigantesca. No telão, aleatoriamente são exibidas algumas imagens distorcidas de propaganda (o estandarte pode ser tirado do lugar e incorporado ao movimento da máquina). O panorama é traçado por diálogos completaente sem nexo. O caos é cada vez maior. Na tela, volta a ser exibido o crônômetro em contagem regressiva de bomba-relógio. O tempo se esgota, e, numa pancada, a luz apaga e todo o som cessa, como uma TV que é desligada na função sleep. Fim.

Resumo: Temos um shopping-sistema, com uma peça defeituosa que faz revelar sua estrutura interior de máquina.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Reunião de equipe

Reunião, como sempre, muito produtiva. Tô adorando esse trio Rosi-Guál-Haroldo. Conversas férteis e idéias convergentes. Ficou decidido: terça-feita, o processo sairá da "introdução"; e entrará no "desenvolvimento".

Um musical!...

Como Rubens disse, em outras palavras: "música é um conjunto de sons, dispostos em harmonia". Isso me fez refletir sobre a questão do deslocamento (tudo pra mim é isso, agora). A proposta da peça é pegar elementos do cotidiano e deslocá-los, para causar a poética desejada. Hoje, vimos que é possível fazer música do mesmo jeito.

Foi muito bom, o exercício de junção de sons foi excelente. Os dois grupos propuseram coisas realmente muito boas, devíamos ter filmado.

Nhac.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

E vai rolar a festa... não.

A galera tá adorando. O encontro de ontem foi muito divertido, até pulamos quadrilha. Achei a entrada da sonoplastia mecânica no ensaio muito positiva, deu outra camada. Tive muita dificuldade no exercício da infância... Não sei se pela neura de que nunca vamos conseguir parecer, de fato, crianças, mas o fato foi que eu fiquei travado. Como dizia meu primeiro professor de teatro, Fernando Mattos, em 2004, "você precisa sair da casca do ovo!". Em alguns momentos, eu ficava estarrecido, pois aquilo ali parecia um sanatório. (Retém)

Como eu disse, a galera tá adorando... até agora, os exercícios, todos, foram "legais". Mas vai chegar a hora que eles vão ver que teatro não é só isso, não é um mar de rosas, que também é difícil, é árduo, é incômodo, e às vezes, bastante sofrido. Mas cada coisa a seu tempo, né? Acho que estamos indo bem.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Culto ao absurdo

Passei grande parte da minha infância e adolescência na igreja evangélica, e estudei no zoológico colégio adventista. Quando bebê, fui consagrado ao Senhor, e aos 13 anos, fui batizado nas águas. Passei uns 8 anos da minha vida inserido nesse universo. Ponto. Depois de mais de 6 anos sem pisar em uma igreja evangélica, motivações pessoais me fizeram voltar em uma, ontem. "Eis o inferno!" (QUIXOTE, 2009).
Foi uma experiência e tanto. Dessa vez, tive um olhar artístico sobre a coisa, e fiquei muito tentado a deslocar certos aspectos para a cena. Vou tentar elencar algumas imagens que experienciei.

-Momento do louvor. Ficamos de pé durante muito, muuuito tempo. As pernas começaram a cansar (e tem uma cadeirinha bem atrás!). Durante boa parte do tempo, permanecemos com as mãos erguidas, e os braços começaram a doer. Em dado momento, a banda toca uma música mais "animadinha" (uhul!). Algumas pessoas arriscam um discreto embalo corporal... Aí uma coisa me chamou atenção: Os obreiros. Eles eram muitos, uns 15. Um coro. Todos vestidos de forma padronizada, com roupa social e gravata (por quê?). Estavam de frente pra platéia, CURTINDO a música! Com a maior cara de "esse som é mó legal", fazendo passinhos, quase como se estivessem numa boate. Oi?

-Adoração.  Aqui, tive uma experiência de sensações sonoras muito interessante. Todos estávamos em pé, de mãos erguidas, e olhos fechados, num momento de adoração, e de oração, de pedir coisas, louvar, etc. Chegou uma hora que a música parou de tocar, e só se ouvia o som das pessoas orando (transição muito interessante, estética e dramaticamente). Mas não oravam baixinho, como em algumas igrejas católicas. Oravam como se Deus estivesse no meio de uma feira, a 10 metros de distância. Clamavam, choravam, gritavam. Foi meio assustador. Em alguns momentos eu abria os olhos discretamente, e percebi que os obreiros estavam andando no meio das pessoas, e em algumas, eles seguravam a cabeça, e gritavam "SSSSSSSSSSSSAI!". Fiquei num momento de suspense, pois se algum obreiro percebia que eu estava de olho aberto, me olhava com reprovação. Fiquei lá, de olhos fechados, no meio daquele som todo de gente gemendo, chorando e gritando, e podia praticamente sentir quando um obreiro passava do meu lado, na expectativa de ele fazer o "sai" em mim. Lembrei do zoológico. Blackout.

-O Filho Pródigo. Quando já podíamos ficar sentados (ufa!), o pastor começou a falar sobre o filho pródigo (um filho que sai de casa, mas fica pobre, miserável, volta pra casa de cabeça baixa, e o pai o acolhe e faz uma grande festa). Acho interessante a habilidade que os pastores têm de manipularem discursos. Através da estória do filho pródigo, ele praticamente dizia "Você pode ser esse filho, então, tá esperando o que? Venha para a casa de Deus você também!", enquanto, a meu ver, poderia também tomar uma série de interpretações diferentes. Enfim. Ele resolveu fazer uma pequena encenação. Dizia "e o pai viu o filho, láá longe...", aí mandou um obreiro ir pro outro lado da igreja, como se fosse o filho. Depois chamou outro obreiro, pra ser o pai. Aí todos vimos o filho, lá longe. E o pastor descrevia: "Ele estava descalço...", e o obreiro, muito espontaneamente, tirou os sapatos. Continuou: "estava sem roupas... mas epa! não vai tirar a roupa porque esse negócio de strip-tease é coisa do Diabo! Tá amarrado, hem! Rs". E perguntou: "e quando viu o filho, o que o pai fez?". Aí o obreiro que fazia o pai atravessou a igreja correndo loucamente, e deu um abraço muuuito apertado e demorado no filho, e ficaram lá, se abraçando, enquanto o público aplaudia, entusiasmado. O pastor continuou o seu texto, e quando nos demos conta, o obreiro que faz o pai volta para seu lugar com o obreiro que fazia o filho nos braços, como se fosse uma noiva. Hã?

-As ofertas. O pastor foi muito franco, disse que não tem nada a esconder de ninguém, e que não tinha que pedir pouco dinheiro das pessoas, e sim muito, pra multiplicar a obra do Senhor. Explicou que a igreja tá com um projeto de conseguir 7 mil pessoas que possam dar a oferta de MIL reais. Nesse dia, a igreja não estava cheia, então ele chamou quem poderia dar essa quantia, e ninguém se manifestou. Então diminuiu: 500!, e uma mulher foi lá. O esquema era o seguinte: a pessoa não dava o dinheiro na hora. Ela recebia um anel dourado, com um envelope, aí dava os dados pessoais pra um obreiro, e se comprometia a ir dia tal com a grana. Então o pastor continuou: 300!, 200!, até perguntar quem tinha "Cenzinho" pra oferecer (eu tava esperando a hora de ele falar "Dou-lhe uma..."). Aí ele foi baixando, até chegar nas moedinhas. Então, uma galera foi lá pra frente, pra entregarem suas ofertas. Então, a melhor parte! O pastor mandou os obreiros carregarem caixas de som, pra fazer tipo um altarzinho, e se deitou de bruços; com  o tronco sobre as caixas, e as pernas e cabeça pra baixo, segurando o microfone perto da boca, enquanto as pessoas (enfileiradas atrás de seu traseiro) iam deixando os envelopes nas costas dele, e voltando aos seus lugares. Minha imaginação fertilmente maldosa logo pensou: "Curra!". Ok, retém.

-Os testemunhos. Durante as orações, o pastor sempre lembrava de expulsar os demônios das doenças. Aí ele listava um monte: "o demônio da artrose, o demônio da pedra no rim, da osteoporose, da inflamação na vesícula, do traumatismo na coxa, da anemia, o demônio da diabetes (rá! eles adoram as diabetes), o demônio da gastrite, da leishmaniose, ó meu Deus, o demônio daquele braço que não levanta mais, daquele pé que não estica mais, o demônio do torcicolo, Senhor...". Enfim, esses pastores têm gravada uma lista infindável de enfermidades. E chegou o momento do culto de as pessoas darem seus testemunhos. O pastor chamou ao palco quem recebeu milagres nessa última semana. Foram várias pessoas, umas dez, compartilhar suas bênçãos. Todas elas usaram produtos da igreja: a água ungida e uma espécie de toalhinha (minha mãe chegou a me fazer beber dessa água ungida, enquanto expulsava supostos demônios que habitariam meu corpo...). E começaram os testemunhos. Gente que curou neto, filho, sobrinho, afilhado e tudo o mais, com as benditas toalhinhas e a água. Mas teve um detalhe: ninguém viu eles falando, porque havia um sujeito com uma câmera de tv, de costas para o público, gravando os depoimentos para serem transmitidos para todo o Brasil. O pastor, no meio das entrevistas, sempre arrumava um jeito de exaltar os detalhes mais interessantes olhando para a câmera. Me senti desprestigiado enquanto espectador.
 
-Eu. Enquanto ser, eu, ali, era a manifestação do deslocamento. A própria igreja, por si só, é absurda, por deslocar elementos de outras esferas e trazê-los para dentro daquele ritual, de roupagem altamente comercial. Mas eu, deslocado de meus ambientes cotidianos, colocado ali dentro, exercia absurdo contraste. Enquanto todos oravam em voz alta, de forma aleatória, eu, no proveito de não ser ouvido, falava em voz alta qualquer bobagem, que não tivesse nada haver com o culto, como "Olha a pamonha, pamonha!", ou "Socorram-me, subi num ônibus em Marrocos!". Foi uma experimentação interessante.

Creio que a igreja tem muito de incomunicabilidade, de sistema capitalista, de modernidade, de máquina, shopping center, zoológico, medo do silêncio, cotidiano e sentidos. Durante o culto, tive várias imagens. Preferi, aqui, não me ater a elas, já que o nosso propósito é primeiramente identificar o banal, para somente depois fazer os devidos deslocamentos - além do que, a igreja, por si só, já me parece absurda. Mas acho, por exemplo, que a imagem dos obreiros dialoga com o visual de figurino proposto, de terno e gravata; acho que podemos aproveitar a coisa da oferta pra pedir dinheiro do público; acho que podemos tomar um pouco emprestado o caráter espetacular dessa linguagem; e acho, entre muitas outras coisas, que esse shopping center, que vira zoológico, que vira várias coisas, pode virar, em dado momento, uma coisa de estrutura parecida com a da igreja evangélica.

Um exemplo. Faz algum tempo que fui convidado para uma reunião de trabalho na HerbaLife. Não aceitei o convite de trabalho, mas fiquei abismado com o que vi. Lembrei dos tempos de igreja. O que se faz lá, ritualisticamente, se parece demais com um culto evangélico. A retórica dos empresários, os "testemunhos", o entusiasmo, as propagandas... A estrutura espetacular é bem parecida. Mas nesse caso, o culto é feito ao corpo e ao dinheiro. Absurdo?

Acho interessante, porque a HerbaLife (na minha cabeça), pega a igreja evangélica, que por si só já é uma miscelânia absurda de deslocamentos, e a desloca pra dentro de si, subvertendo COMPLETAMENTE o sentido da mensagem. Acho que isso se enquadra no que propomos: um "sutil" deslocamento, que provoca uma bizarrice do tamanho do mundo.

domingo, 4 de abril de 2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Frase vazia de significado

"Eu te amo."

Rum, ora essa!

(Por Haroldo França, em 28 de dezembro de 2008)

-Ora, pois veja você! Olhe só essa sua cara-de-pau! É tal qual mariscos bélicos, é tal qual suprimento gélido, é tal qual beringela hidratante, é tal qual ardor de desodorante...

-Cale essa boca, lânguida avestruz! Não me obrigue a tomar atitudes sérias e preventivas contra o câncer de mama.

-Boquete.

-Como disse?

-Boquete! Boquete! É isso mesmo o que você está ouvindo!

-Ora, mas não entendo! Não consigo compreender!

-Sexo oral!

-Oh, como ousas! Vem comigo! Abre minha geladeira, e te convidarei para um brinde.

-Do que estás falando, Carlota?

-Ora, meu querido, não me venha com essa! Ouviu bem? Não me venha com essa, e mais essa, e mais essa! E nem com aquela, aquela outra, aquela outra da outra da outra da outridade de alguém!

-Sua proposta me parece interessante. Entre em detalhes.

-Ontem, eu tava em casa, né, aí a campainha tocou. Aí eu fui atender né, pensei: Nossa, mas como assim, uma visita, a essa hora da madrugada, em plena Rodovia dos Maracujás. Pois menino, quando abri a porta, tive que segurar meus queixos. Todas minhas juntas, todas minhas articulações puseram-se a tremer. A pessoa que tocara a campainha era nada menos que uma velha que usava top de cotton!

-Mas que absurdo! Que violento, grotesco e infiel absurdo! minha nossa...

-E calma aí, calma aí, meu filho, que eu estou só começando! Adivinha o que tinha atrás da velha?

-Um velho?

-Não! Algo extraordinário! Era um carregamento de maracujás!

-Que extraordinário!

-Minha geladeira está cheia deles. Vamos tomar um suco?

-Opa, demorou.

-Então vamos!

-Mas peraí!

-O que foi?

-E o Rum?

Desgovernando a língua

Escrevi esse texto em 16 de novembro de 2009, num momento de muita agonia, no qual sofria de um transtorno obsessivo compulsivo chamado tricotilomania (mania de arrancar os fios de cabelo e mordê-los), que acho que vem a calhar aqui, enquanto absurdo no que tange ao paladar. Escrevi como forma de desabafo, de modo que a partir de certo momento, o discurso perde a linha da narrativa, e passa a invadir campos de sentido aleatórios, como um carro desgovernado, que perde o controle e invade todos os quintais da vizinhança.
OBs.: a título de curiosidade, no meu caso, eu não chegava a engolir os fios. Isso aparece no texto, mas é apenas um recurso dramático, rs.
Em nome do desabafo. (Por Haroldo França)
Seus dedos são sempre inquietos. Sempre em busca de algo, seja uma tecla de computador, ou um fio de cabelo - seja do corpo ou da cabeça. Os fios de cabelo inundavam sua vida. Cresciam pelas paredes, e não adiantava mais cortá-los. Eles ressurgiam, envolvendo sua cama enquanto dormia, na tentativa de sufocá-lo. Os fios de cabelo o impediam de fechar as janelas. Estavam em suas roupas, em seus livros, em todo o lugar eles apareciam. Tentou, então, agradá-los. Deu um banho de xampu, na casa toda. Sentiu gosto de sabão na boca, e vomitou. Vomitou bolas e bolas de cabelo empapado de ácido gástrico. Tentou conviver com isso. Ia pra escola, pegava ônibus, e por onde passava, os fios de cabelo ameaçavam sair pelos esgotos ou pelas tubulações de ar. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de voltar pra casa. E todos os dias, era uma tentativa de homicídio. Como conviver com isso? Como receberia visitas em casa? A situação foi tomando contornos cada vez mais angustiantes. Foi quando decidiu: Clínica de depilação. Custaria caro, mas o faria, para salvar o que lhe restava de vida. Foi então que suas unhas começaram a crescer numa velocidade anormal. Sbia pelas paredes enquanto exclamavam ouvidos afora o quão inflamável poderia ser uma simpática adestrada e inquieta vizinha, flamejante, explosiva, temperatura, termômetro, vento ao vento. E assim, sem mais nem menos, deu-se ao encontro de seus pensamentos no ato de escrever o quão cruel poderia ser essa insaciante, infinita e sufocante busca pelo amar, pelo amor, e pelo relacionar-se. Opção? Sabia muito bem que não poderia sê-lo. Não poderia sê-lo! Era destino cravado. Como dente de jacaré, mandíbuila, afiada, vertical, na carne, estaria, no sangue, na alma. Não sairia. Não sairia. Não sairia. Não sairia. E a cada vez que se tocava disso, era como se um novo fio de cabelo nascesse, contornasse seu pescoço e o sufocasse. o sufocasse. o sufocasse. E Escorreu! Escorrendo foi até encontrar com sua grande paixão, aquele morto sentimento de se tornar avesso a tudo o que desafia o equilíbrio na vida. E quando essa inquietação exagera, se aproxima de angústia. E que angústia é essa, tão cabeluda, de garras tao grandes, que não deix ao pobre coitado dormir? Seria humana? O palpite que qualquer ser humano poderia mencionar é o de que abóboras são feitas para serem espatifadas, desperdiçadas, e seu suco deve ser absorvido pela terra, pelos mortos, pelos micróbios, para que um dia uma manga seja digerida e nela existam milhares de sentimentos universais, que passam pelas veias de todo ser humano, que não se permitem exalar-se ou multiplicar-se em sete partes. Ou será que poderia? Eu já havia dito, certa vez, que um não é o que é aquilo que se merece ser dado ao dízimo, e amadas são as vidas outroras tão coisas escalafobéticas e verbo, verbo, verborragia desce, escorre e planta na alma um sentimento profundo de inquietude, evasão, fuga, sentimentos que explodem a flor da pele, a flor, a pele, a planta, a raiz envenenada do ser que é careca, calvo de viver, um fio de vida que se rompe enrolado no dedo e leva a morte condensada num líquido que escorre pela língua e leva a crer que tu nada mais é que um objetivo inconcreto, inalcansável, praticante herdeiro de genes híbridos que um dia darão frutos a jardins encantados na Eutanásia, o lugar de onde todos aqueles malditos fios de cabelo nunca deveriam ter saído. Eles percorrem as ruas e alcançam o surreal, o inexplicável da existência humana, do relacionar, do comunicar e dizer sempre e sempre e sempre tudo o que menos importar e dizer que na verdade o que se é não importa, o que importa é apenas aquele maldito fio de cabelo que se arranca da cabeça, o que importa é finalmente a maldita dor que eu sinto a três dias, e a necessidade de manter meus dedos ocupados, falando, comunicando, teclando, para que não retornem à minha cabeça e me façam crer que perecerei, e não terei a vida eterna.

ter em mente.

Incomunicabilidade. Shopping Center. Zoológico. Industria. Máquina. Corpo. Sensações. Sentidos. Cotidiano. Banal. Deslocamento. Desparedar. Absurdo.

Número três

Pra mim, nesse dia, a energia caiu.

Eu estava com dificuldade pra me manter atento, e não houve, a meu ver, exercícios de aquecimento. A coisa começou branda demais, foi difícil me manter "na liga". Quando chegou a hora de reconstituir os movimentos do dia, os corpos estavam frouxos, e eu devo isso à falta de aquecimento. E tive uma dificuldade muito pessoal: Eu vou ao GTU pra fugir da minha vida pessoal, que não anda nada bem. Reconstituir o meu dia desde o acordar, lembrar da minha casa, e da minha família me fez sentir vontade de chorar. Talvez tenha sido bom, né?

Um elemento foi acrescentado: o guarda-chuva. Não seria cedo demais? Cedo ou não, ele está aí, e precisamos saber trabalhar com ele.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Segundo encontro

Ainda na primeira semana.

Já na porta de entrada, nos deparamos com uma lista. Proceso burocrático. Eu diria necessário, já que somos muitos.

Na sala, muita gente. Muita gente mesmo. Foi preciso fazer três rodas, uma dentro da outra. Começamos com aquecimento, e depois, um jogo de integração. Foi muito legal. E já ficou avisado: a partir de semana que vem, 18h15 a porta da sala vai ser fechada.

Início

Muita gente, muito calor, muito humano. A montagem de Aeionesco, do Grupo de Teatro Universitário, começou com pé direito.

Tivemos uma fala introdutória da Wlad, seguida pela apresentação da equipe principal. Em seguida, fizemos alguns exercícios, para nos conhecermos, aquecermos, integrarmos, rirmos juntos.

Nada de entrar no assunto da montagem. É realmente importante colocar a galera pra se mexer, pra sentir no corpo a energia da coisa. Acho que foi positivo.